Nos últimos dois anos, uma série de operações realizadas nas regiões de Mata Atlântica nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo resultou no resgate de mais de 1.500 aves vítimas do tráfico ilegal. Essas operações, embora bem-sucedidas em retirar esses animais das mãos dos criminosos, destacam um desafio tão difícil e complexo quanto o resgate: a reabilitação e manutenção de centenas de aves que não podem ser imediatamente reintroduzidas na natureza.

A situação dos indivíduos resgatados é especialmente crítica nos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) dessas regiões, onde superlotação e falta de recursos constantes ameaçam o bem-estar dos animais.

Em abril do ano passado, uma operação em São Paulo resultou no resgate de 250 aves, predominantemente curiós (Sporophila angolensis) e pintassilgos (Spinus spp), dois dos alvos mais frequentes dos traficantes devido ao canto melódico dessas espécies. Dessas, 150 foram levadas ao Cetas de São Paulo, onde 80 foram reintroduzidas em áreas protegidas da Mata Atlântica. Entretanto, 70 dessas aves continuam em tratamento e aguardam reintrodução.

Já em julho deste ano, a Serra do Mar foi palco de outra ação que salvou 300 aves, incluindo o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) e o tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus), ambas espécies que enfrentam um alto risco de extinção. Destas, 50 aves já foram reintroduzidas na natureza, mas 250 ainda permanecem em reabilitação ou aguardam um abrigo definitivo.

Realizada neste mês de agosto, a Operação Urutau foi mais um esforço significativo da Polícia Federal em conjunto com o Ibama, visando o tráfico de aves canoras como trinca-ferros e curiós nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Essa operação resultou na apreensão de centenas de aves e na prisão de diversas pessoas, desmantelando uma rede que operava há anos na região. Anteriormente, em junho de 2023, a Operação Teia Verde também teve impacto relevante ao apreender dezenas de cobras e rãs venenosas, além de algumas aves, focando no mercado internacional de animais exóticos. E em novembro de 2022, a Operação Cantarolando II teve como alvo o tráfico de aves canoras em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, apreendendo cerca de 2.000 aves e resultando na prisão de mais de 20 pessoas.

Centros de Triagem enfrentam superlotação

Os Cetas de São Paulo e Rio de Janeiro, fundamentais no processo de triagem e reabilitação, enfrentam uma série de desafios estruturais. A superlotação é um problema grave, com os centros frequentemente abrigando aves em condições inadequadas. Mais de 400 aves estão atualmente nesses abrigos, das quais cerca de 70% estão em situação precária devido à falta de espaço e cuidados apropriados.

A manutenção de aves resgatadas exige um investimento significativo. O custo médio para manter uma ave em um mantenedouro é estimado em R$ 200 por mês, o que resulta em um custo anual de quase R$ 1 milhão para as 400 aves que ainda estão sob cuidados.

Das aves que permanecem em abrigos, muitas não têm perspectiva de reintrodução devido ao estado físico debilitado ou à falta de locais seguros para serem liberadas. O futuro dessas aves depende, além dos centros de triagem, de mantenedouros que possam garantir uma vida digna, mas a realidade é que esses locais, tanto os públicos quanto privados, enfrentam um déficit de recursos.

Animal Care na linha de frente do cuidado

A situação exige uma mobilização urgente. Entidades como o Santuário Silvestre Animal Care estão na linha de frente, recebendo e cuidando de aves resgatadas. No entanto, para continuar esse trabalho vital, essas instituições precisam de apoio financeiro e voluntário. Cada real doado pode significar a diferença entre a sobrevivência e o sofrimento para uma dessas aves.

O tráfico de animais silvestres é uma realidade cruel que ameaça a biodiversidade da Mata Atlântica. As operações de resgate, embora essenciais, são apenas o primeiro passo em uma longa jornada que depende do apoio contínuo da sociedade para garantir que essas aves possam viver em segurança. Ao contribuir com instituições como o Santuário Silvestre Animal Care, você não está apenas ajudando a salvar vidas, mas também protegendo a rica biodiversidade de uma das regiões mais importantes do planeta.

Apoie o Santuário Silvestre Animal Care e faça parte da preservação da vida silvestre na Mata Atlântica.

Sua contribuição pode fazer toda a diferença. 

Fontes: Jornal da USP, Revista Veja, Portal Neo Mondo e ICMBio